A expansão desordenada das fronteiras agropecuárias brasileiras tem sido o principal vetor de degradação ambiental das paisagens naturais do Brasil. Este processo, presente desde o início da colonização do país, avançou pela Mata Atlântica, Cerrado e segue em direção a Floresta Amazônica. Nestes séculos, a sociedade moderna vivenciou grandiosos avanços, mas, no entanto, a relação entre o homem e o meio ambiente, principalmente nas fronteiras agrícolas, não evoluiu na mesma velocidade. Atualmente, os recursos naturais continuam sendo explorados de maneira economicamente ineficiente, ecologicamente insustentável e socialmente injusta.
Na medida em que a sociedade toma consciência da necessidade de se reverter esse panorama, ações devem ser realizadas para a promoção de uma mudança estrutural: a criação de um modelo de desenvolvimento rural de baixo carbono. Esta abordagem vem sendo delineada pelo IPAM há quase duas décadas. Pesquisadores, reunidos a partir de 1995, vêm desenvolvendo um conceito capaz de conciliar o aumento da produção agrícola com a redução do desmatamento e consequente redução das emissões de gases de efeito estufa. Neste universo, a agricultura familiar é um elemento chave para a promoção de um novo modelo de desenvolvimento amazônico. No início, o trabalho com agricultores familiares esteve focado no manejo adequado do fogo. Até hoje, a utilização de queimadas como prática de preparação para o cultivo do solo é amplamente utilizada, principalmente pelos pequenos produtores que não têm acesso a financiamentos e assistência técnica. A adoção de boas práticas na condução das queimadas para o preparo dos lotes foi uma estratégia de sucesso que permitiu uma redução drástica nos eventos de fogo acidental na região. Esta experiência também serviu de referência para a construção de uma abordagem mais ampla de modernização da produção agropecuária familiar.
Assim se concretizou o projeto "Assentamentos Sustentáveis na Amazônia (PAS): o desafio da produção familiar em uma economia de baixo carbono", que visa promover uma transformação da base produtiva dos assentamentos de reforma agrária da Amazônia, aumentando a rentabilidade das áreas já abertas e desta maneira contribuindo para a redução do desmatamento na região.
O PAS está sendo desenvolvido em conjunto com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Fundação Viver, Produzir, Preservar (FVPP) e dezenas de organizações de base, como sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais e associações.
Participam do projeto cerca de 2.700 famílias distribuídas nos assentamentos Bom Jardim (Transamazônica), onde vivem 692 famílias, Cristalino II (BR-163), com 110 famílias, e Moju I e II (Baixo Amazonas), que reúne 1.578 famílias, e ainda 350 famílias do antigo Polo do ProAmbiente da Transamazônica. O projeto recebe apoio financeiro do Fundo Amazônia e contribuições da Climate and Land Use Alliance (CLUA), Fundação Gordon and Betty Moore e Fundação Ford.
A proposta central do PAS é reduzir o desmatamento através do manejo florestal e do aumento da rentabilidade nas áreas já abertas. Mas, muito além do controle do desmatamento, o projeto prioriza a melhoria da qualidade de vida das famílias assentadas.